A Disciplina e A Instrução do Senhor na Criação dos Filhos
Thomas K. Ascol
13 de Março de 2014 - Família
Ocasionalmente, pais ou outros membros preocupados da família reclamavam e até mesmo interferiam no tratamento prescrito para crianças doentes e feridas. Eles não conseguiam ficar parados vendo seus filhos suportarem a dor de uma injeção ou serem forçados a engolir medicamentos. Donna e suas colegas eram acusadas até mesmo de serem “cruéis” e “indiferentes”, às vezes.
“Eu nunca conseguiria ser uma enfermeira pediátrica, porque eu amo muito crianças”, era uma afirmação que ela ouviu muitas vezes. Embora ela nunca tenha dito nada em resposta, o pensamento que sempre vinha à sua mente era o seguinte: “Você realmente pensa que a razão pela qual estou fazendo isso é porque eu não amo crianças? É exatamente o oposto! É por eu amar o seu filho que estou disposta a infligir dor se necessário para aplicar medicamentos que podem restaurar a saúde dele. Eu não gosto de vê-lo chorar, mas eu sei que o benefício a longo prazo vale a dor de curto prazo”.
É assim que Deus quer que pensemos sobre a disciplina — toda disciplina, incluindo aquelas que os pais são responsáveis por aplicar em casa. De fato, a palavra hebraica usada pelo Antigo Testamento e a palavra grega usada no Novo Testamento para “disciplina” transmitem a ideia de correção que resulta em educação. É um esforço positivo e altamente valioso.
Para muitas pessoas hoje, contudo, disciplina é uma palavra feia. Elas veem toda a ideia a partir de uma luz negativa e restritiva que é associada a pensamentos de punição, dor, sofrimento e privação. Embora essas realidades possam estar envolvidas de certa maneira, toda verdadeira disciplina nunca é um fim em si mesma. Sempre é um meio para um fim desejável. Como Hebreus 12.11 explica: “Toda disciplina, com efeito, no momento não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza; ao depois, entretanto, produz fruto pacífico aos que têm sido por ela exercitados, fruto de justiça”.
Disciplina é uma atividade que acontece no “momento” mas sempre tendo em vista o “depois”. O fazendeiro empreende a disciplina de arar, plantar e tomar conta do solo não tendo em vista essas atividades em si mesmas, mas tendo em vista a colheita que elas irão resultar.
É precisamente por causa dos resultados positivos que Deus não retém a disciplina do povo que ele ama. Essa é uma verdade vitalmente importante de ser lembrada pelos cristãos quando passam por provações e dificuldades. O autor de Hebreus enfatiza esse ponto citando Provérbios 3.11-12 para encorajar seus leitores que não se fatiguem ou desmaiem em meio ao sofrimento. Ele pede a eles (e a nós) que nos lembremos de que Deus nos trata como filhos nessa passagem quando ele diz: “Filho meu, não menosprezes a correção que vem do Senhor, nem desmaies quando por ele és reprovado; porque o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho a quem recebe” (Hb 12.5-6).
Da mesma maneira, Deus chama os pais a serem como ele, amando os próprios filhos o suficiente a ponto de discipliná-los apropriadamente. Ele faz isso expondo os benefícios positivos que derivam da disciplina das crianças. “Corrige o teu filho, e te dará descanso, dará delícias à tua alma” (Pv 29.17). Não apenas os pais se beneficiam, mas a criança também se beneficiará. “A estultícia está ligada ao coração da criança, mas a vara da disciplina a afastará dela” (Pv 22.15). Uma criança bem disciplinada terá a sua insensatez exposta e corrigida de forma tão regular e consistentemente que a beleza e a bondade da sabedoria se tornarão cada vez mais atrativas a ela.
A Escritura deposita a responsabilidade de disciplinar as crianças diretamente sobre os ombros do pai e da mãe, especialmente do pai. A mais clara e sucinta declaração a respeito disso é feita por Paulo em Efésios 6.4: Pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor”. Esse versículo cobre toda uma gama de devereis paternais.
Após adverti-los que não provoquem os seus filhos, Paulo fundamentalmente admoesta o pai e a mãe — especificamente os pais — a criarem seus próprios filhos. Esse claro e simples mandamento é tão profundo que se fosse compreendido e obedecido por todos os pais, a maioria dos males sociais associados ao comportamento juvenil seriam eliminados.
O trabalho de criar os filhos não pertence diretamente à escola, à sociedade, à igreja ou ao grupo de jovens; mas aos pais. De acordo com o apóstolo Paulo, não é necessário uma aldeia para criar uma criança; é necessário um pai.
Se fôssemos pensar em Efésios 6.4 como uma mala de ferramentas para a paternidade, nós precisaríamos reconhecer que as duas ferramentas principais que Deus criou para que os pais usassem na criação dos filhos são a “disciplina” do Senhor e a “instrução” do Senhor. Essas palavras transmitem duas atividades paternais vitais. A primeira é física e a segunda é verbal. A disciplina do Senhor é aquilo que é feito a uma criança ao passo que a instrução do Senhor é aquilo que é dito a uma criança. Elas devem ser usadas juntas para que as crianças sejam treinadas devidamente a viver bem no mundo.
A disciplina que esse versículo tem em mente é aquela que inclui a correção de uma criança que deliberadamente desobedeceu a instrução apropriada das autoridades estabelecidas por Deus (6.1-3). Tal correção pode envolver punição física (daí a referência à “vara da disciplina” em Pv 22.15).
A punição corporal parece bárbara e inevitavelmente abusiva para a sensibilidade moderna. A Bíblia, contudo, não hesita em recomendá-la como parte da disciplina que deve ser administrada no lar. “Não retires da criança a disciplina, pois, se a fustigares com a vara, não morrerá” (23.13). O tipo de disciplina visada é aquela que intencionalmente causa certa quantidade de dor através do uso de uma vara.
O uso de tal disciplina não é abuso infantil. Não tem nada a ver com violência induzida por raiva. Tais maus-tratos infantis são repugnantes e devem ser repudiados por qualquer um que tenha sequer um pouco de bom senso e decência. Disciplina bíblica e abuso infantil são duas coisas completamente diferentes. Essa, se levada ao seu extremo lógico, resulta em morte, mas a disciplina bíblica que emprega uma vara (ou uma sola), para aplicar certa quantidade de desconforto, está muito longe dessa categoria. A criança que experimenta o tipo de disciplina que a Bíblia promove “não morrerá” como resultado.
Deus deu uma significativa salvaguarda para impedir que a disciplina que ele recomenda seja degenerada em abuso, a saber, o uso da segunda ferramenta: instrução. Pais são professores, e a instrução que eles devem dar a seus filhos exige conversa. Muita conversa. Todo o livro de Provérbios é um exemplo de como os pais devem regularmente ensinar a seus filhos a sabedoria de Deus através das várias experiências e situações — tanto boas quanto ruins — que a vida oferece.
Isso certamente inclui tempos de correção. Não é suficiente que um pai aplique a vara; ele deve também aplicar palavras. Ele deve dar a instrução do Senhor assim como a disciplina do Senhor. Quando a vara tiver que ser empregada, a criança deve ser ensinada a ver a situação à luz da verdade bíblica.
Quando a sua filha peca, explique a ela o que ela fez em termos simples. Deixe claro o que ela deveria ter feito. Faça a autoridade de Deus ser eficaz dizendo a ela o que Deus diz sobre a situação, direta (como em “Não darás falso testemunho”) ou indiretamente (“Crianças devem obedecer aos seus pais no Senhor”). Ensine-a que você está aplicando a vara pelo pecado dela porque você a ama demais para não corrigi-la (Pv 13.24) e você ama o Senhor demais para não obedecê-lo (Jo 14.15).
Depois, simplesmente explique que Jesus morreu na cruz para pagar por esse tipo de pecado. Lembrar disso ajuda os pais a transformar cada ocasião de séria disciplina em uma ocasião para uma conversa sobre o evangelho. “Você e o papai somos pecadores. Mas Jesus morreu por pecadores como nós, para que nossos pecados fossem perdoados. Deus perdoa todos aqueles que confiam em Jesus. Eu vou orar a Deus agora para dar a você um novo coração que vai odiar o pecado e confiar em Jesus para o perdão”.
E ore. Repita tanto quanto for necessário.
Quando pais veem essas questões claramente e trabalham para treinar seus filhos consistentemente na disciplina e instrução do Senhor, eles têm razão para orar na esperança de que o Senhor, que confiou essa criança a eles e que os está capacitando a levá-la à sabedoria bíblica, a salvará graciosamente e estabelecerá firmemente o seu reino no coração dela.
Tradução: Alan Cristie
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